12 de maio de 2012

SURF PROIBIDO - TEMPORADA DE PESCA DA TAINHA




Nem bem começou a temporada de pesca da tainha e o surf já está proibido em diversas praias de Garopaba e de Imbituba. E o pior, surfistas e praticantes das mais diversas modalidades de esportes aquáticos estão sendo ameaçados desde o primeiro momento em que colocam os pés na areia, principalmente nas praias de Garopaba, onde se localiza uma das melhores ondas do Brasil, a Silveira.

Esta proibição tem alguma base legítima? Por que os pescadores não respeitam o acordo firmado? É justificavel que um grupo de pessoas tenha o poder de evacuar as praias para que eles possam pescar? O que fazer em caso de ameaças e agressões? São muitas as perguntas dos surfistas que são obrigados a sair correndo da praia para não apanhar na praia. Por isso reescrevemos essa matéria que fala da temporada de pesca da tainha.

Oficialmente, começa dia 15 de maio a temporada de pesca da tainha em todo o litoral catarinense. O período de pesca, que vai até o dia 15 de julho, durante dois meses deixa quase todas as praias do Estado fechadas para a prática do surf e demais esportes aquáticos. Os pescadores dizem que os surfistas e turistas espantam o peixe. Os surfistas querem aproveitar o mar e suas ondas, que durante o inverno ficam maiores e melhores. Com interesses conflitantes, os atritos, as ameças e as agressões, infelizmente são bastante comuns. 

 As regras da temporada de pesca e a proibição dos esportes aquáticos mudam um pouco em cada região do Estado, que determina se haverá ou não praias ou trechos liberados para a prática do surf.  Em lugares como Florianópolis e Laguna esses problemas quase não existem mais, mas nas praias do sul do Estado a situação anda mais quente do que nunca.

Apesar da falta de um embasamento que justifique a evacuação do mar, essa determinação vem funcionando até hoje mais pelo fato de os pescadores serem um grupo muito mais organizado do que os surfistas, do que por alguma real necessidade de proibir o surf. 

Na visão dos surfistas e dos turistas, a proibição é puro exagero, mas os pescadores estão todos registrados, aparecem nas votações com seus títulos de eleitor na mão, dizem quantos votos representam e fazem valer seus direitos. A pesca é uma atividade tradicional, milenar, e seus trabalhadores são pessoas simples, que dependem da pesca para sobreviver. Como os surfistas não se unem para lutar por seus direitos, acabam tendo que aceitar as regras dos pescadores, protegidos pelos políticos que estão sempre de olho nos votos que essa categoria representa. Mas o surf é um esporte que movimenta milhões de dólares e que tem milhares de praticantes e admiradores em toda Santa Catarina. Seus números são ainda maiores do que a pesca artesanal, sem falar que o esporte convive de forma exemplar com a praia, com o meio ambiente e com as espécies marinhas. 

Para que todos possam entender um pouco mais sobre a questão, segue abaixo alguns fatos e algumas visões sobre o tema.



O LADO DOS SURFISTAS


O surf é o terceiro esporte mais praticado no Brasil. Possui milhares de praticantes em todo o território nacional, tornando-se mais do que um simples esporte, mas a diversão e a profissão de muitas pessoas de todas as faixas etárias e classes sociais. Principalmente em Santa Catarina, Estado que possui um litoral privilegiado para a prática do surf e com forte tradição no esporte. 

O litoral catarinense recebe etapas dos circuitos brasileiro e mundial, possui atletas renomados, campeões em todas as categorias e até campeões mundiais amadores e profissionais (WQS), sem falar no turismo bastante representativo em torno desse esporte. Como mercado, o surf movimenta bilhões de dólares a cada ano. Como promotor do turismo, o surf  (ou até mesmo uma única onda específica) movimenta milhões de reais por ano em deferentes cidades ou regiões costeiras. Como esporte, Temos um dos circuitos profissionais mais bem pagos do mundo e uma estrutura organizada com federação, associações, fábricas, marcas, atletas e todo um universo voltado para o esporte surf, o que faz gerar muitos empregos, movimentando a economia nacional. São muitas as pessoas, entre praticantes, atletas amadores e profissionais, e gente que trabalha na industria do surf, que vivem em Santa Catarina exclusivamente por causa do surf.
 As principais visões e reclamações dos surfistas:

1. Mais do que um praticante esportivo, o surfista é um apaixonado pelo oceano. Um esporte saudável, ecológico, popular, que também a profissão de muita gente, principalmente em Santa Catarina, onde vivem muitos atletas. Os surfistas (e nessa categoria entra o surf, o kiteSurf, WindSurf, BodyBoard, BodySurf, KayakSurf, o LongBoard, o Tow-In, o StandUp Paddle ou qualquer outra modalidade de esporte aquático no mar), querem garantir o acesso às praias e às ondas, que são território livre em todo o planeta, menos aqui em Santa Catarina. Existem surfistas e existe a pesca em quase todas as praias e oceanos do mundo. E em nenhum outro lugar do planeta o surf é proibido por espantar os peixes. Não existe nenhum estudo que diga que os surfistas na linha da arrebentação afugentem os cardumes.

2. Surfistas e pescadores são dois grupos de pessoas que vivem do mar, com o mar, e para o mar. É muito comum acontecer a inter-relação entre as atividades (o surfista também ser pescador, e os pescadores também serem surfistas, ou pai de surfistas). Uma atividade complementa a outra e pode (e deve) transcorrer de forma tranqüila e amistosa. Os surfistas admiram e respeitam a pesca e convivem de forma tranqüila com os pescadores. O contrário é que parece não acontecer. Para os pescadores os surfistas não passam de um bando de desocupados e que só atrapalham a pesca, o que não é verdade.

3. Todo sujeito que surfa no sul do Brasil sabe muito bem que o surfista não espanta a tainha ou os outros peixes. Os cardumes passam no meio do crowd chegando a bater nas pernas e nas pranchas, demonstrando que não sentem medo de nós surfistas. Sem falar que os surfistas não matam e não são predadores dos peixes, nem representam qualquer ameaça de perigo às tainhas, que convivem com os surfistas em praticamente todas as praias do Brasil, justamente por não oferecermos perigo algum aos peixes. 
 
4. Além de achar uma injustiça essa "lei" imposta pelos pescadores, os amantes das ondas são hostilizados, humilhados e até agredidos, muitas vezes por pessoas alcoolizadas e que em bando ficam perigosas. Os surfistas entendem que é muito mais fácil e cômodo para o pescador brigar na beira da praia com os surfistas do que lutar em Brasília contra seus representantes, que autorizam a pesca industrial próxima à praia, o maior responsável pela diminuição dos cardumes de tainha. Pranchas quebradas e destruídas a golpes de facão, surfistas humilhados, agredidos e expulsos da praia são atitudes que sempre existiram e que deveriam ser tratadas como caso de polícia. Os surfistas estão levando a fama de espantar os peixes quando é obvia e notória a presença dos imensos e numerosos barcos pesqueiros com seus motores, sonares, barcos de apoio e todos os equipamentos da pesca industrial, essa prática sim é que acaba com a tainha. Existem ainda as redes de pescas de arrastão não registradas e uma atividade pesqueira que desrespeita o período de desova. Estas atividades obviamente são muito mais danosas ao peixe e ao meio ambiente do que os surfistas.

5. Autorizar a pesca no período de desova da tainha não é autoriza a pesca em período de piracema? Pescar e matar tainhas ovadas é certo?

6. Nos ranchos de pesca, além dos pescadores, encontram-se também, muitas pessoas que passam o dia bebendo e jogando carta. Nem tudo mundo é pescador, mas na hora de cercar ou ameaçar o surfista, todo mundo vira pescador profissional e quer exercer o seu "direito" de mandar na praia. Mais do que pescar.

7. Os pescadores não podem prender, agredir, ofender ou executar a sentença de um surfista. Pescador não é oficial, não é polícia e nem juiz para ter esse poder. Ninguém pode ter tanto poder e muito menos ser um ditador das praias. A época do coronelismo já não acabou e o que todos querem hoje, é respeito.

8. Atletas profissionais e amadores sobrevivem de contratos de patrocínio e das premiações dos campeonatos que participam. Com as praias fechadas, não podem treinar, não podem se preparar para as competições e nem mostrar o seu trabalho, justamente na melhor época de ondas do ano.

9. Os surfistas aceitam e respeitam a tradição da pesca, atividade cultural e tradicional de Santa Catarina, mas também ressaltam que aqui existe também um esporte grande, popular e com força crescente, que também tem o direito ao seu espaço. Não é porque a pesca da tainha é tradicional e centenária que ela não possa ser ajustada para uma realidade atual, tanto ecológica quanto social.

10. Existe um "acordo de cavalheiros" , entre surfistas e pescadores, de quando o mar subir e as canoas não puderem entrar, os pescadores abrem as praias para os surfistas. Mas esse acordo nem sempre funciona. São muitos os dias de ondas grandes e mar grosso que passam sem aproveitamento algum para a pesca e que o surf fica proibido. O problema é que não existe acordo nenhum para os pescadores. Ano passado, em Garopaba, eles nao abriram as praias mesmo nos dias de ondas acima de 2 metros, e esse ano já falaram que também não vão abrir.  
11. Nas praias funciona o sistema de bandeiras, que sinaliza se o surf está ou não liberado. Porque essas bandeiras SEMPRE e em TODAS AS PRAIAS, são controladas pelos pescadores? O certo não seria uma pessoa neutra? Nas praias onde há existem atritos a bandeira nunca muda, é sempre proibido o surf.
12. Na maioria das pequenas cidades litorâneas, os pescadores anotam suas compras nos  “caderninhos” dos bares, mercados, farmácias e padarias, enquanto os surfistas, em número muito maior, pagam em dinheiro. Se os surfistas é que impulsionam a economia das cidades litorâneas no inverno, porque estes é que são banidos das praias?

13. Os surfistas constantemente se reúnem para participar de movimentos de proteção e de limpeza das praias, realizam mutirões de coleta de lixo e são sempre muito interessados na saúde das praias. Os pescadores, por outro lado, não participam desses movimentos e ainda constroem barracos de pesca em cima das dunas, dos sambaquis e da vegetação de restinga, o que é um crime ecológico grave.  A lei não deveria valer para todos?

12. Proibir o surf e os esportes náuticos e proibir as pessoas de usufruírem da praia não seria um ato inconstitucional?


O LADO DOS PESCADORES




A pesca é uma das atividades mais tradicionais do Estado de Santa Catarina. Tanto que muitas de cidades litorâneas de Santa Catarina foram criadas e desenvolvidas a partir da pesca artesanal. Em teoria, os pescadores são pessoas simples, que vivem quase que exclusivamente da pesca, de onde tiram o sustento de suas próprias famílias, além de colaborarem para a indústria da pesca da pesca em todo Brasil. Os pescadores pertencem a uma classe de trabalhadores que deve sempre ser escutada e até protegida. A portaria que determina o período da pesca da tainha apenas faz valer essa proteção aos pescadores que têm na safra sua maior fonte de renda, sendo esse o maior motivo para defenderem tanto a pesca da tainha. 

Durante os meses de maio a julho, os cardumes de tainha sobem pela costa brasileira para fazer sua desova e os pescadores utilizam essa oportunidade para garantir uma boa pesca e o seu sustento. Para alguns pescadores, essa tradição é sua única forma de sustento, para a maioria, um bom incremento em suas rendas. É a famosa “Tainha das Ovas de Ouro”, como alguém já disse anteriormente.

Rodrigo Pereira Medeiros, surfista, oceanógrafo com mestrado em ecologia e doutorado em sociologia política, disse no site www.waves.com.br que "a pesca da tainha é muito mais que um processo produtivo-econômico, é um momento de manifestação do “território da pesca artesanal”. Porém, não deixando de lado a dimensão econômica, numa pesquisa que realizei no Pântano do Sul, os pescadores chegam a quadruplicar a sua renda durante esses dois meses. E isso tem uma importância muito grande, pois é o momento onde ele pode melhorar a sua casa, ou fazer uma reserva para os “meses de miséria”, quando a produção é baixa.


Nessa ótica, "Os surfistas são os “haoles” neste momento, pois atrapalham aquele momento comunitário, que pertencem aos pescadores e não aos surfistas. Além disso, eles esperam pelo peixe, e não buscam pelo peixe, capacidade que nós surfistas, em geral temos na nossa busca. É muito mais fácil para nós buscarmos ondas em outras praias, do que para os pescadores buscarem peixes em outras praias. Nossa forma nômade de surfar muitas vezes não respeita os processos comunitários que acontecem nas praias catarinenses", conclui Rodrigo Medeiros.

A grande reclamação dos pescadores é que a prática do surfe espanta os cardumes e prejudica a pesca nas praias onde são usadas redes de pesca. Eles defendem também, que as pessoas respeitem uma tradição de gerações, e acreditam ser justo, deterem o direito sobre as praias para poderem pescar em paz, tendo em vista que são pessoas nativas,  que mantém a tradição e que tiram seu sustento do mar. Além disso, o período de pesca da tainha ocorre somente durante dois meses. Os surfistas têm 10 meses com 100% de liberdade. E mesmo durante os meses da tainha, algumas praias ficam liberadas, ou parcialmente liberadas, para a pratica do surf. Não é um período de total proibição mesmo porque, muitos pescadores têm o costume de liberar o surf quando o mar sobe e as grandes ondas não deixam as canoas entrarem.

Os pescadores dizem que mesmo com todas essas discussões, não há o que reclamar. Além de acontecer por um período curto de tempo, existem as bandeiras informativas (que dizem se a praia está liberada ou não para o surf) e existem muitas praias alternativas. A maioria dos casos de confusão é gerada por pessoas que não moram na praia e chegam em nosso litoral sedentas por ondas e não querem nem saber se existe pesca ou não. O pessoal que mora na praia entende e respeita essa prática. Muitos surfistas inclusive ajudam os pescadores a puxar as redes e aproveitam pra comer uma tainha na brasa com os amigos.



O LADO DA TAINHA


A tainha sempre foi uma espécie abundante em nosso litoral. A grande maioria delas sai das inúmeras lagoas de água doce do suldo Brasil para desovar no mar, principalmente da Lagoa dos Patos. É uma espécie comum em todo o litoral brasileiro.

Andando sempre em grandes cardumes, as tainhas passeiam próximas as praias e nessa época do ano viram um grande e lucrativo negócio para as empresas de pesca industrial e também para os pescadores artesanais. É a chamada "tainha dos ovos de ouro", que carregadas de ovas, passam a ser agressivamente perseguidas, pois além de lucrar com a venda dos peixes, os pescadores lucram também vendendo as ovas. O problema é que a pesca nessa época vem aniquiliando os cardumes. As tainhas antes mesmo de largarem suas ovas, são mortas pelos pescadores. A grande questão aqui é como a tainha vai conseguir se reproduzir se são pescadas ainda com suas ovas? Como a espécie vai continuar alimentando e abastecendo as famílias de pescadores artesanais, se a pesca industrial continuar tão agressiva e predatória?

O Ibama, órgão que regulamenta a pesca no litoral brasileiro, determinou um período de defeso em favor da Tainha, onde ficou decidido que até o dia 15 de maio, os pescadores não podem pescar a espécie devido ao período de desova da espécie. 


Antigamente, a pesca artesanal correspondia a quase 100% da pesca da tainha. Hoje, 90% da pesca da tainha correspondem à pesca industrial, que está acabando com os cardumes. Os pescadores artesanais, que esperam o peixe na beira da praia, usam redes de arrasto e claro, a cada ano matam menos tainhas próximo a praia. Os grandes barcos pesqueiros estão cada vez mais próximos da costa, pegando tudo que aparece na frente, e todos perdem com esse tipo de pesca. Principalmente a tainha.


 O LADO DO TURISMO



O surf é um dos esportes mais praticados no Brasil e no mundo, sendo o principal esporte aquático do país, junto com a natação. As viagens em busca de boas ondas é um dos principais e mais constantes movimentos turísticos em direção a costa catarinense. No verão e no inverno, calor ou com frio, faça chuva ou faça sol, centenas de surfistas com suas namoradas, amigos ou famílias, partem em direção as praias de Santa Catarina, deixando seu dinheiro nos postos de gasolina, supermercados, farmácias, pousadas, hotéis, padarias e no comércio local, gerando uma renda bem distribuída nas comunidades pesqueiras.

Uma região com ondas de qualidade pode ter uma receita de milhões de reais por ano, gerados diretamente por esse grupo de surfistas-turistas. Sempre acontece da mesma maneira: atrás de uma onda de qualidade vêm os surfistas, as namoradas, os amigos, as famílias, a mídia e mais surfistas, aumentando cada vez mais o volume de dinheiro circulando, o que torna mais sadia a vida financeira das cidades costeiras.

 Vale salientar que durante os meses de inverno, quando nossas praias ficam vazias, a economia das cidades e das famílias  sofre uma queda brusca. A situação piora ainda mais quando se proíbe o surf e muitas pessoas deixam de vir para as praias de Santa Catarina por causa da pesca da tainha. Sem falar que algumas dezenas ou centenas de sites (e em diversas idiomas), relatam que durante os meses da pesca da tainha as praias catarinenses estão fechadas para a prática do surf e dos esportes aquáticos. Muitos desses sites, inclusive, comentam sobre a agressividade dos pescadores com quem tenta entrar na água durante a época de pesca. É o tipo de propaganda que não ajuda muito no turismo e na economia das cidades costeiras.

Do ponto de vista das cidades litorâneas, basicamente dependentes da atividade turística, tanto o turismo gerado pelo surf, como aquele baseado na pesca são importantes e valiosos na vida e na economia de cada uma das cidades costeiras. E sob essa ótica, todas as ações para atrair e agradar esses turistas devem ser promovidas em prol do desenvolvimento sustentável de cada cidade ou região.

O LADO DA LEI


Não sou advogado e não entendo muito de leis, por isso vou ser bem breve. De fato, e qualquer leigo sabe, não existe uma lei que proíba as pessoas de entrarem no mar. Isso seria absolutamente inconstitucional. 

E aqui existem muitos pontos a serem considerados. Primeiro, é que a Portaria da Capitania dos Portos que proibia o surf foi revogada com o surgimento da Instrução Normativa número 171, de 9 de maio de 2008, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). A instrução normativa aborda a pesca da tainha, e segundo o IBAMA não há nenhuma especificação quanto à proibição da prática do surf. Desta forma, a proibição de pessoas livres entrarem no mar para pegar ondas, é ilegítima. 

Vale lembrar também que mesmo que essa lei fosse legítima, ela deveria ser executada por agentes públicos responsáveis, e nunca pelos próprios pescadores, como vem acontecendo. Com base nesses dados, o ato de proibir alguém de usufruir da praia e ameaçar ou agredir essas pessoas, isso sim é caracterizado como crime. Se houver constrangimento ou violência, as penas podem aumentar ainda mais. O mais certo a se fazer, em caso de violência ou de ameaças, é procurar a polícia e fazer valer o seu direito de cidadão. Se ninguém denunciar, os abusos contra os esportistas continuarão. 

Os surfistas estão impedidos de entrar no mar porque são acusados de espantar o peixe, acusação essa que não tem lógica ou comprovação científica. 

O que existe hoje em Santa Catarina é um acordo, que foi realizado em Florianópolis, onde o Presidente da Federação Catarinense de Surf se reuniu com as autoridades e representantes da pesca e firmou um termo de compromisso entre surfistas e pescadores. Nesse acordo ficou determinado que durante os dois meses da pesca, o surf ficaria restrito às praias ou áreas liberadas pelos pescadores, e que nas ocasiões em que o mar realmente subisse (acima de 1 metro) o surf seria liberado já que as canoas não conseguiriam entrar no mar. Esse acordo foi firmado e os surfistas (na verdade da Federação Catarinense de Surf)  aceitaram essa condição em respeito à cultura da pesca. Em Florianópolis, por exemplo,  esse acordo vem funcionando e muito bem, sem maiores atritos.  Muitas praias e cidades já não fazem mais a tal proibição: Quando tem peixe, os surfistas inclusive saem e ajudam a puxar a rede.Em Garopaba, por outro lado, esse acordo não vem sendo respeitado pelos pescadores e o surf fica proibido mesmo quando o mar passa dos 2 metros. Nas praias de Garopaba, o acordo nãovem sendo respeitado e em dia de ondas grandes nem as canoas entram no mar, e nem os surfistas.

Os pescadores, claro, esperam que haja a colaboração dos surfistas para que a pesca continue fazendo parte da cultura e da tradição de Santa Catarina. Os surfistas, por sua vez, percebem a necessidade de mais união e estão amadurecendo sua consciência social para lutar e fazer valer o seu direito de cidadão.

 

AS CONCLUSÕES E OS CAMINHOS PARA O FUTURO

 

Todos esperam que o bom senso e a boa relação entre surfistas e pescadores prevaleçam sobre a ignorância, e que os dois lados envolvidos tenham os seus direitos assegurados. Que todos os surfistas e que todos os pescadores possam praticar seu esporte/profissão com liberdade, já que de ambos os lados temos amadores apaixonados e também gente profissional, que sobrevive dessas atividades.

A proibição ao surf é um crime que fere o direito de ir e vir de qualquer cidadão, ainda mais nas praias, que são públicas e considerados território livre em qualquer lugar do mundo (exceto nas áreas militares). Essa “lei” deve acabar em breve, visto que não possui grandes fundamentos: Existe mais interesse por votos nessa questão, do que necessidade real de fechar ou evacuar qualquer praia. A mentalidade turística e esportiva deve prevalecer nesse sentido liberando as praias e as ondas para todos.

A grande maioria dos problemas acontece com os surfistas de final de semana e com os turistas, que desconhecem as regras locais, chegam à praia com uma “fome de ondas” maior do que o respeito aos nativos e aos locais. Do outro lado, os pescadores abusam da “autoridade” e agem como polícia e como juiz, apontando, prendendo, julgando e executando suas leis diante de surfistas encurralados. O que não pode continuar acontecendo são as ameaças e as agressões físicas e morais, visto que isso é uma atitude criminosa.

A grande luta deve acontecer mesmo, é contra a poderosa indústria pesqueira. Os pescadores artesanais sofrem para conseguir as sobras da pesca industrial e em breve não restará nada para eles. Enquanto os pescadores artesanais ainda utilizam técnicas rudimentares para identificar os cardumes no mar, as grandes embarcações utilizam sonares que localizam os cardumes a cinco milhas de distância. Uma concorrência bastante injusta.

O futuro da pesca artesanal depende da ajuda de todos. A atividade está quase desaparecendo e deve ser incentivada e promovida, caso contrário corre o risco de desaparecer. Pescadores e surfistas, juntos, podem lutar contra a pesca industrial da tainha e assegurar o futuro desse tipo de pesca exclusivamente para o pescador artesanal. Sem brigas, sem proibições e sem discriminação.

Se essas duas categorias parassem de brigar e passassem a se unir para lutar a favor de nossas praias e do nosso mar, muita coisa poderia mudar, e para melhor. E precisa mudar! A preservação e o uso inteligente dos recursos do mar devem ser urgentemente reavaliados e evoluídos, caso contrário a pesca pode realmente acabar.

Independente de tudo isso, o que não pode mais acontecer, é o clima de agressividade e essa guerra (as vezes fria e as vezes bem quente) entre surfistas e pescadores. A realidade atual, com surfistas sendo ameaçados e até apanhando na beira da praia, com pranchas sendo destruídas sem piedade, é totalmente inaceitável. Durante os melhores meses do ano (para a pesca e para o surf) um clima chato de ameaças e agressões ainda impera em u ma grande parter das praias catarinenses. A radicalidade e o coronelismo nativo não podem mais prevalecer sobre o bom senso e sobre as leis, muito menos contra um esporte saudável e ecológico. Surfistas e pescadores são os dois grupos de pessoas que mais tem contato, respeito e amor ao oceano. E devem achar um meio pacifico de lidar com a questão.

Esperamos que todas entidades envolvidas (IBAMA, Capitania dos Portos, Ministério da Pesca, Fecasurf e Associações de Pesca) acabem de vez com essa situação ridícula de proibir as praias para as pessoas de bem e que se acabe esse “apartheid da parafina”. E que as autoridades legais,
Polícia Civil, Polícia Militar, Polícia Federal e Ministério Público ajudem a reestabelecer a paz.


FIQUE LIGADO!


Atualmente, as praias são liberadas ou proibidas de acordo com cada região. Algumas praias sinalizam se haverá pesca ou surf através de bandeiras de sinalização. Quando há cardumes na região, bandeiras são hasteadas informando a proibição do surf. Com o mar grande, quando sair de barco torna-se perigoso, as bandeiras são baixadas e a praia liberada para o surf. Em outros locais rola um sistema de cores: bandeira branca: surf; bandeira vermelha: pesca.

Se você for ameaçado ou agredido física ou moralmente, procure seus direitos de cidadão. Vá até a delegacia de polícia e registre um Boletim de ocorrência. Se a delegacia se negar a registrar o B.O., procure o Ministério Público, a Polícia Federal e ligue para a imprensa.  Só não fique calado, pois esse tipo de atitude só contribui para que a violência seja perpetuada. Como diz o ditado “ninguém vai subir em cima de você, a menos que você se deite.”



Outros textos que vale a pena você ler:

A farra do surfista

O lado dos pescadores

Pescadores x Surfistas

A triste realidade sobre a pesca da tainha

Administração de conflitos no mar de Santa Catarina


12 comentários:

  1. Boa Dada,
    Parabéns pela iniciativa do post!
    Pescam a Tainha na época da desova e depois ainda querem argumentar que são os surfistas que espantam os cardumes para longe!
    Parabéns mais uma vez!

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  2. O melhor texto sobre a pesca da tainha que já li.
    Só está informando mal quando diz que em Florianópolis a situação está tranquila ou mais acertada.
    Bem pelo contrário!
    Moro no norte da ilha e nenhuma das praias é liberada, mesmo com 5 metros de onda.
    A única exceção é o campeche, que raramente liberam (e isso nos dias muitoooo clássicos).
    Norte do Estado, idem, ignorância e imperialismo total dos pescadores.

    Parabéns Dada mandou muito bem em sua manifestação parceiro!

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  3. Parabéns!

    Conteúdo muito bem escrito, e bem esclarecedor. Espero que a solução venha em um futuro muito próximo.

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  4. Aqui em São Chico é tranquilo surfar nas praias tradicionais apenas nos secrets que nao...

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  5. Folha de SP http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1113108-santa-catarina-veta-surfe-na-temporada-de-pesca-da-tainha.shtml

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  6. Melhor post que já vi. O problema é que você foi racional, e espera que os pescadores sejam racionais também nesta questão. Eles não são. São ignorantes e primitivos, e tão pouco se f* pra verdade ou pro mundo. Sinceramente? Com essa atitude besta que eles tem, só o que fazem, é cavar a própria sepultura. Se ainda fossem mais inteligentes, se aliariam aos surfistas, para pelo menos tentar diminuir a pesca industrial. Mas não... preferem o caminho suicida da violência despropositada. Por isso, infelizmente eu digo: Que vão, que sumam. Eles merecem, eles mesmos estão causando isso pra eles. É isso.

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  7. Bem senhores, esse ano foi a PIOR temporada de tainha de todos os tempos, ano passado foi de 3000toneladas, esse foi de 770 toneladas. Culpam o vento que não trouxe o frio, mas todos sabem que é pelo fato de venderem tainhas com ovas....(mas que idiotas). Não se preocupem, pois logo não vai ter mais tainha e vai sobrar muita praia.

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  8. esse periodo de defeso da tainha vale para quem? Somente para a pesca industrial? Somente pesca artesanal? Ou para os dois grupos?

    Muito legal o texto, mas fiquei na duvida sobre o periodo de defeso.

    Ontem mesmo fui barrado aqui em floripa, nao vou dizer o nome do pico, mas é uma praia que sempre ficava aberta pro surf mas por "falta de tainha" agora estao pescando nessa praia também!

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  9. O período de defeso vale para ambos os casos. Pesca industrial e pesca artesanal e visa defender a espécie.

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  10. Esses pescadores estão cometendo o maior crime ambiental com o aval do poder público. A pesca em período de desova é a mais impactante para a preservação da espécie. É um retrocesso com o atual cenário mundial em relação ao meio ambiente. O IBAMA, ao invés de proibir a pesca da tainha nesse período, que seria a sua obrigação em razão da sua atividade estatal, é cúmplice de uma matança injustificada.

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  11. Nós surfistas temos que nos unir e dar um sacode nesses pescadores (nos que pensam que o mar são deles) "Quer guerra terá, quer paz quero em dobro"

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  12. Jamais o surf iria atrapalhar a pesca de qualquer espécie que habita os oceanos. Pena que não tenho recursos, senão apresentava um estudo detalhado sobre este assunto.

    Os pescadores estão errados e apoiados por políticos sujos. Brasil, país da piada.

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