20 de agosto de 2011

Por mais educação dentro d´água!

É final de semana. Você chega na praia louco para pegar umas ondas. Ao chegar no pico, a cena é bizarra. No mesmo lugar rema uma multidão de “surfistas” com todo tipo de equipamento. Tem body surfers, body boarders, surfistas, longboarders, tem a galera do StandUp Paddle, do kite surf, do Waveski, do Kayak Surf e até uns malucos treinando tow-in com seus fedorentos jet skis. Nada contra nenhuma dessas modalidades, muito pelo contrário.

O surf vem do termo em inglês surface (superfície), e toda forma de esporte que desliza sobre a superfície da água de certa maneira também é surf. O grande problema é que todos os praticantes dessas modalidades se encantam pela emoção de dropar uma onda e andar em cima d´água e sempre querem mais. Todos se acham no direito ( e de fato têm esse direito) de remar pro pico e disputar as melhores ondas. E é aí que o bicho pega.

O surf sempre foi um esporte democrático, onde nunca importou se você era alto ou baixo, branco ou negro, rico ou pobre. O surf sempre foi um esporte sem diferenças sociais. Na água todo mundo era igual, todos tinham dois braços para disputar uma onda e se divertir. Os pranchões levavam certa vantagem, por ter mais velocidade de remada, mas nada de tão acentuado. Até porque os longboarders na grande maioria dos picos eram minoria.

Hoje o "mercado" do surf é gigantesco. Temos muito mais surfistas e muito mais ex-surfistas. Tem os jet skis, temos os kites, os stand ups, os longboards, os fun boards, as evolutions, as pranchinhas, os body boarders e os body surfers. Ah, tem ainda os Kayak surf e os waveskis. E ainda tem gente inventando prancha a motor, onde o surfista preguiçoso não precisa nem remar para entrar na onda. E ao contrário de tempos atrás, hoje quem tem mais dinheiro pode mais.

Veja o caso dos Stand Ups. A modalidade surgiu a poucos anos e virou moda em todo o mundo. Hoje o SUP está presente em praticamente todas as praias, o que trouxe uma nova reclamação: pela primeira vez na história do surf, com o SUP estabeleceu uma diferença sócio-econômica no line up. O que não falta hoje em dia é aquele playboy arrogante e prepotente, que dentro dágua com seus stand ups de R$ 4.000 e seus remos de R$ 500, a grande maioria deles sem muita habilidade e nenhuma educação, pega todas as ondas que quer. Por ter a facilidade tripla, de já estar em pé e ver a onda antes que todos, de ter uma prancha muito maior e com mais remada, e do uso dos remos, remam em todas as ondas da série, muitas vezes colocando todo a crowd em risco. O problema ainda piora quando a maior parte dos praticantes de Stand Up é formada por iniciantes e por ex-surfistas. (Explico, ex-surfistas são aqueles caras que já pegaram onda no passado, mas por estarem fora de forma ou por terem outras prioridades, acabaram abandonando o esporte. Eles aparecem na praia de vez em quando, com pranchas bem maiores para compensar a falta de preparo físico, e acham que por serem mais antigos tem a prioridade.) Os iniciantes não entendem direito as regras básicas de bom senso e a hierarquia do pico, enquanto os ex-surfistas querem descontar todo tempo parado e remam em todas as ondas.

Há também os kite surfers. Na maioria das vezes, o vento acaba separando surfistas e kite surfistas. E muitos praticantes do surf são também kite surfistas e vice-versa. Mas nem sempre. Há dias em que o crowd se mistura. O perigo é grande pois os caras vem literalmente voando e não tem muito tempo ou condição de desviar de quem está pegando onda. Em caso de acidente (e acidentes com kite frequentemente são fatais) tanto o kite surfer quanto os surfistas podem ficar enrolados nas linhas. O risco é gigantesco, principalmente por causa da velocidade.

O mesmo vale para os praticantes de tow-in de beach break, que querem aproveitar qualquer mar acima de um metro com o pretexto de treinar para os dias grandes. O problema acontece quando muitos deles, sem educação alguma (isso acontece principalmente em São Paulo) invadem o line up com pesados jet skis lançando surfistas nas ondas com uma velocidade absurda, o que pode fazer de qualquer acidente uma fatalidade. São os chamados mini-riders (o contrário dos big riders, esses sim praticantes de tow-in de ondas realmente grandes)

Essas atitudes deixam os surfistas desesperados, primeiro porque a disputa pelas ondas não é justa. E depois, porque existe um sério risco de alguém na crowd ser atingido por um Stand Up, por um kite ou por um jet ski.

Já vi inúmeros caras que já não surfavam há muito tempo, voltarem a surfar devido as facilidades do Stand Up e causarem acidentes feios. Quase fui atropelado por três vezes e já tive que sair da água porque os weekend stand up surfers remavam em TODAS as ondas sem deixar passar uma única onda até para os surfistas locais. A total falta de educação e de bom senso, quase sempre é daquelas pessoas que não moram na praia e quando lá chegam querem pegar o máximo de ondas possível. Os profissionais, os competidores e as pessoas de bom senso raramente causam esses problemas básicos de falta de educação.

Como muito bem disse o Túlio Brandão no site Waves, “ A Questão é que, com o desenvolvimento dos esportes de prancha, estamos chegando a uma encruzilhada. Ou o line-up se organiza e se respeita, ou rapidamente entrará em colapso. Se nada for feito, a melhor diversão já inventada pelo homem tende a se tornar apenas estressante e sujeita a acidentes diários, sem qualquer prazer.


Também no site Waves, Luciano Meneghello comenta: Rixas entre as modalidades de surf sempre existiram. Foi assim com o bodyboard e com o longboard, por exemplo. A diferença é que no caso do SUP, há realmente um grande risco à integridade física daqueles que estão no mar e a falta de bom senso de alguns praticantes de SUP acaba por denegrir a imagem do esporte.

Aqui no Brasil temos três problemas básicos:

- A falta de educação;

- A cultura do Beach break, onde todos remam desesperados para tentar achar uma onda boa, que pode quebrar em qualquer lugar;

- A falta de um trabalho nacional de divulgação de regras básicas de conduta dentro d´água;

O caminho, como já dizia o Ricardo Bocão há alguns anos atrás, é o esporte de menos potência sempre ter a prioridade. Jet skis não podem fazer tow in onde tiver gente surfando. O mesmo deveria valer para o kite e para o SUP. As pessoas que querem aprender o Stand Up deveriam procurar praias específicas, e seus praticantes deveriam pegar as ondas mais afastadas do grande crowd, evitando acidentes.

E não pensem que esse texto é contra os Stand Ups ou Jet skis que atrapalham os surfistas de pranchinha. Estes, por serem mais numerosos, são os mais agressivos e os mais sem educação. A maioria deles surfa muito menos do que pensam que surfam, são marrentos e querem as ondas todas para eles.

Claro que temos honrosas exceções em todas as modalidades, mas posso afirmar que o que falta em nossos line ups é a educação! Artigo que anda em falta em todas as esferas do nosso país. E quanto mais grana as pessoas tem, parece que menos educação precisam demonstrar.

Grande parte dessa culpa é das surfshops e da indústria do surf, que só se preocupam em criar modas e mercados, só querem vender mais e mais, e nunca pensaram em como organizar de forma inteligente essa suruba toda. O pensamento da vez parece este: O Stand Up é mais caro e dá mais lucro, vamos entupir as praias de Stand Up!!

Ou criamos (e divulgamos) regras claras e justas, ou vamos continuar (e certamente vai piorar) com essa prática selvagem de quem tem mais força faz o que quer dentro d´agua, o que é absolutamente contra o bom senso. Em muitas praias, o comportamento é quase selvagem, de tão agressivo. Pessoas apanham, tem suas pranchas e carros detonados e sofrem humilhação.

Outra idéia é dividir os esportes em diferentes praias, como acontece em alguns lugares. Praias para o surf e praias para o Stand Up; Jet Ski só quando não tiver ninguém na remada.

No mar, assim como no trânsito, precisamos de regras de educação e de segurança para evitar brigas e acidentes.

Até lá, que o localismo saudável de cada praia faça valer as regras de cada line up.

5 comentários:

  1. A Guerra das Pranchas

    http://waves.terra.com.br/surf/noticia/colunas/tulio-brandao/a-guerra-das-pranchas/48369

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  2. Pela harmonia no outside

    http://waves.terra.com.br/surf/noticia/pela-harmonia-no-outside/47528

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  3. Pó galera aqui na Praia do Rosa SC, estamos com grande problema por esses motivos, pessoas que ñ tem educação nenhuma e muitas vezes nem noção do que estão fazendo dentro d'água estão calçando acidentes e ainda acham que estão certo.
    Já esta mais que na hr de ser feito uma cartilha de regras pro out side.
    E essa iniciativa deve vir principalmente das empresas que estão lucrando muito com os play Boys que acham que podem fazer o que querem só pelo fato de mais que um ou outro.
    Ou cada vez mais o localismo vai ficar com raiva desses caras e logo vira uma guerra dentro d'água.

    abraço galera fica ai minha opinião de um amante do surf de alma...

    fé sempre...

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  4. Esse problema não é exclusivo aí do Rosa. São muitas as praias do Brasil em que o crowd, a agressividade e a falta de noção passaram de todos os limites. Mas creio que essa campanha de educação deveria partir de nós surfistas, das entidades (CBS, Federações e Associações) e da mídia especializada, que é quem melhor vai propagar essa "nova cultura". O mercado já dita regras demais e já tem seus problemas para resolver. Se nós, surfistas, começarmos um movimento, quem sabe as coisas acontecem... Aloha!!

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  5. Caracas q texto Dadá.Vc é craque.Boa conscientização. Saúde amigo.

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