9 de maio de 2011

As andanças do Tour


Depois de realizadas as duas primeiras etapas tradicionais do WT, Circuito Mundial da ASP, começamos a vivenciar as primeiras mudanças desse tour de 2011. A primeira etapa foi em Snapper Rocks, etapa clássica de abertura do circuito, que sempre acontece na Gold Coast australiana. A segunda etapa foi a também clássica Rip Curl Pro Bells Beach, evento que completou 50 anos de evento na mais tradicional direita australiana. E agora o tour vem para o Brasil, e de volta para o Rio de Janeiro. A ASP trocou a calma e pacata Imbituba (SC) pela metrópole do Rio de Janeiro (RJ).


EXODO DOS PARAÍSOS?

Há poucos anos atrás, a ASP criou um novo conceito de eventos. Todos decidiram abandonar os eventos com ondas ruins e imprevisíveis (mas com praias lotadas), em troca de fazer eventos em locais paradisíacos e com as melhores ondas do planeta (e com audiência pela internet). Então foi criado o Dream Tour, o circuito de ondas perfeitas do WCT. A fórmula foi um sucesso e ficou constatado que era bem melhor assistir os melhores surfistas do mundo nas melhores ondas do mundo. O impacto visual e o interesse em um evento com ótimas ondas é infinitamente superior ao de um evento realizado em ondas ruins, mas com a praia cheia. Parecia lógico e todos estavam adorando. Os índices de audiência na internet se tornaram monstruosos, todos assistindo as baterias do tour ao vivo e o surf acabou encontrando a sua própria televisão: a internet. Pois agora em 2011 parece que estamos voltando a antigos conceitos. Foi o Dream Tour que não deu muito certo ou é o dinheiro da indústria que quer os eventos nas grandes praias?

Primeiro foi a decisão da volta do World Tour para o Rio de Janeiro. Trocar a calma (mas muito constante) Praia da Vila pelas ondas urbanas do Rio de Janeiro foi a primeira aposta urbana da ASP. (Vale lembrar que desde que apontaram uma arma para o havaiano Shane Dorian durante uma etapa do WCT no Rio, que um evento do tour não acontecia na Cidade Maravilhosa). Mas beleza, o Rio de Janeiro é uma cidade linda, tem praias fantásticas e os gringos vão delirar com as cariocas na praia e na noite. A vocação da cidade para realizar e emoldurar grandes eventos com certeza soma na entrega do produto final e esse deve ter sido um fator determinante na decisão da ASP e da Billabong.

Depois foi a notícia de uma etapa do World Tour em New York. Etapa inédita e com uma premiação recorde. Menos um paraíso ou uma onda de reef, mais uma etapa perto do grande público e das TVs. Não que long beach não tenha boas ondas, todos sabemos do potencial de surf e de tubos por lá. Mas soou um tanto estranho escutar Nova York quando o que vem fazendo sucesso são os eventos em ondas novas ou exóticas.

E finalmente o anúncio de San Francisco como local sede da etapa The Search da Rip Curl, notícia que surpreendeu muita gente. Primeiro por ser uma onda bem conhecida, que nada combina com o posicionamento “The Search” da patrocinadora do evento. E depois, por San Francisco ser uma das maiores cidades americanas e suas ondas, muito geladas, serem totalmente urbanas.

Etapas em ondas perfeitas e exóticas ou campeonato pertinho do público? Qual a melhor saída? Qual será a tendência da ASP para os próximos anos? Em breve teremos essa resposta. Mas ao que parece, as grandes empresas estão querendo (ou precisando?) é o contato próximo com seus clientes.

No final do ano a gente vai conferir.


O TURISMO E O SURF

Perto ou longe dos grandes centros urbanos, o certo é que uma onda que entra para o tour pode representar milhões de dólares para qualquer cidade que o receba. E muitas são as cidades que adorariam receber uma etapa do circuito nacional ou mundial para mostrar suas praias e suas ondas para o mundo. Publicidade mundial, quem não gostaria? O surf é um dos esportes mais praticados no Brasil e no mundo, o número de praticantes só aumenta. O grande boom do surf hoje está na europa. Por lá, em recente pesquisa, o surf foi citado como o esporte que os europeus mais gostariam de experimentar.


"Uma onda perfeita de surf pode ser o motor da economia de uma inteira região. Pequenas localidades que nunca teriam saído do anonimato, que teriam permanecido esquecidas na periferia do mundo, são hoje internacionalmente famosas em todo mundo pelo simples facto de possuírem uma onda perfeita ao fundo da rua. (...) O turismo de surf não é turismo de massa, é turismo sustentável e continuado, é um nicho de mercado sólido e em crescimento." Pedro Adão e Silva no Blog Ondas


São muitos os casos de cidades que se transformaram, se desenvolveram e se tornaram lugares prósperos porque simplesmente tinham ótimas condições de surf. E temos muitos exemplos, de excelentes cidades, que tem o orgulho de ser chamada de Surf City. Cidades como Huntington Beach e Santa Cruz (Califórnia) Jeffrey´s Bay (na África do Sul), Uluwatu (em Bali), Mundaka (Espanha) e as brasileiras Florianópolis (SC), Garopaba (SC), Itacaré (BA) e Saquarema (RJ), Praia da Pipa (RN), Guarda do Embaú (SC), só para citar alguma, são cidades que cresceram preservando a sua identidade e que encontraram um equilíbrio ambiental, sempre protegendo e preservando suas praias e ondas.

Além dos eventos, outra idéia ainda muito pouco exlorada, mas com grande potencial turístico e econômico, os fundos artificiais podem, ao mesmo tempo, criar uma onda com qualidade internacional, aumentar bastante a vida marinha em seu entorno, proteger as casas construídas à beira-mar (já que dissipa a energia das ondas) e ainda injetar milhões de dólares na economia das cidades costeiras, dinheiro que vem do turismo, do crescimento imobiliário, dos gastos no comércio, e com o turismo em si. Todos atrás das ondas e dos peixes.

Em Portugal, por exemplo, o surf é das atividades que apresentam maior índice de prosperidade.


Rip Curl Pro Search 2009 distinguido pelos Prémios de Turismo de Portugal

Este evento realizado em Peniche e promovido pela Rip Surf e pela Câmara Municipal de Peniche constitui uma étapa, designada “The Search”, do Campeonato do Mundo de Surf- WCT.
O Rip Curl Pro Search veio demonstrar o crescente interesse pelos desportos de ondas, bem como reafirmar a excelência das praias e costa portuguesa para a prática e realização de eventos náutico-desportivos.
Atento o seu contributo para a afirmação do potencial do Turismo Náutico, o Rip Curl Pro Search 2009, foi distinguido com o Prémio da categoria Eventos no âmbito da 5ª edição dos Prémios Turismo de Portugal.
www.turismodeportugal.pt/premios2009


O surf hoje movimenta milhões e milhões de reais, é um dos esportes mais praticados do país e a quantidade de surfistas em cada estado representa um número bem considerável de votos. Nosso esporte já tem tamanho suficiente para começar a lutar, de fato, para a proteção das praias e dos surfistas. É também, plenamente possível, ter sucesso na luta pela segurança e preservação do nosso litoral. Só necessitamos de mentes políticas sensíveis ao potencial do surf, e de agentes políticos que revelem uma visão diferente da miopia dominante, abraçando a causa.


Leia mais sobre o assunto

Sugerimos a leitura dos seguintes links, especialmente a presentes e futuros administradores e secretários de cidades costeiras:

Miguel Figueira

A economia do surf

Global Surf News

Camaras Verdes

surf 4ever

Rip Curl

Praia da Pipa

Surf, Uma onda pode recuperar uma cidade?

Surf como motor da economia

A importância do surf nas cidades

Guarda do Embaú


Um comentário:

  1. Palavras do próprio Kelly

    http://sportv.globo.com/site/eventos/wt-rj/noticia/2011/05/kelly-slater-faz-criticas-ondas-nao-classicas-como-rio-e-nova-york.html?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter

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