12 de agosto de 2013

Enquanto isso, no circo da ASP




2013 começou com uma grande expectativa para todos que acompanham o circuito mundial de surf. Em 2012 foi anunciado que a ASP, “associação/empresa privada” que controla o circuito mundial, foi vendida para um grupo privado (ZoSea Media Holdings, Inc.), que grosseiramente falando, é composto por pessoas envolvidas com a Quiksilver, uma das  maiores marcas do esporte. Muita gente queria ver o esporte surf saindo das mãos dos australianos e passasse a ser gerenciado por pessoas mais profissionais e comprometidas com o desenvolvimento profissional e sustentável do esporte, mas já se passou a metade do ano e até agora parece que nada mudou. A entidade continua sendo gerenciada e executada pelas mesmas pessoas de sempre, que cometem os mesmos erros de sempre.

O tal “ano de transição” está sendo na verdade um ano de inércia. A ZoSea só assumirá o controle da ASP em 2014 e até lá, o surf vive em seu próprio limbo.

Enquanto a nova diretoria não assume as rédeas do surf profissional, temos que continuar assistindo a velha falta de profissionalismo da entidade em lidar com problemas de comportamento por parte dos atletas. Agressões, drogas e favorecimentos continuam existindo no mundo mágico da ASP. Principalmente quando os envolvidos são havaianos. Ou brasileiros. Explico: sempre que acontece um caso de agressão, a entidade coloca panos quentes e abafa o caso.

No Hawaii, Makua Rothman já deu um tapão na cara do brasileiro Paulo Moura durante uma entrevista e Sunny Garcia tentou agredir Neco Padaratz durante uma bateria. Ainda teve aquela briga envolvendo Sunny Garcia e Jeremy Flores na Austrália, embora esse caso tenha ocorrido durante uma sessão de freesurf. Agora essa semana, Jamie O´Brien deu um soco na cara do brasileiro Ricardo dos Santos também durante uma bateria do trials do Billabong Pro Tahiti. Nos instantes finais da bateria, Jamie O´Brien e Ricardinho remaram na mesma onda, Jamie rabeou o brasileiro e ainda desferiu um soco na boca do brasileiro, bi-campeão do trials de Teahupoo. Ambos acabaram eliminados da competição e o havaiano impediu que o brasileiro continuasse lutando pelo título do trials (Ricardinho é o atual bi-campeão do Von Zipper Trials).

Ricardinho mostra o resultado da agressão de Jamie O´Brien em seu Instagram

Embora essas agressões tenham acontecido durante os eventos da ASP, tenham sido transmitidas ao vivo e amplamente divulgadas pela internet, nenhuma delas teve qualquer tipo de punição.

Como disse Ricardinho em suas redes sociais: “Confesso que para mim é muito triste, pois foi uma situação extrema, na qual pegamos a onda juntos e acabei levando um soco na cara em plena onda!!! Não sou lutador, sou surfista profissional, não estou acostumado a levar socos enquanto exerço minha profissão. Pra completar, após tomar porrada na cara, o quarto colocado virou a bateria. Conclusão: tomei soco na cara durante uma bateria, perdi a chance de defender o título e não há nada que possa ser feito. Não era para o surf ser assim" Ricardinho também escreveu  "Obrigado, Jamie O'Brien, por socar meu rosto durante minha bateria de traigem. Não sei porque as coisas continuam acontecendo dessa maneira quando as pessoas estão competindo. Esse seria o evento mais importante do ano para mim e fui nocauteado durante a bateria por um outro surfista. Inaceitável!"

Se você não viu os comentários e fotos postadas pelo Ricardo dos Santos também não vai ver mais. Ricardinho teve que apagar as fotos textos que publicou falando do episódio por “livre e espontânea pressão”. Sim, a censura também existe na ASP. Depois de ver alguns de seus atletas reclamando publicamente de julgamentos e de decisões incompreensíveis pelo twitter e pelo facebook, a entidade hoje não permite que seus competidores publiquem reclamações ou comentários negativos sobre a entidade nas redes sociais. Censura ou um ato desesperado de uma entidade que não tem muito profissionalismo?
O fato é que todas as agressões e atos de violência deveriam ser repudiados e punidos com severidade, mas não é o que acontece. Medo dos havaianos? Falta de um real respeito pelos brasileiros? Responda quem for capaz.

Flagra do momento em que Jamie O´Brien pede desculpas a Ricardinho

Agora inverta os acontecimentos. E se o brasileiro tivesse agredido o Jamie O´Brien? O que aconteceria? Certamente ele seria punido para servir de exemplo. Exatamente como fizeram com o brasileiro Neco Padaratz em 2005. Na época, uma grande parte ( ou a maior parte?) dos surfistas do tour usavam drogas, e três outros atletas teriam caído no mesmo exame antidoping de Neco acusando a presença de THC (maconha) no sangue. Mas somente o brasileiro foi penalizado. E os casos são muitos. O Occy foi pego fumando maconha na praia, durante o evento do Rio e nada aconteceu com ele. Andy Irons usava todo tipo de drogas, morreu de overdose e virou mito. Mas somente o Neco dançou. E o Ricardinho certamente teria dançado se fosse ele quem tivesse agredido o JOB. A justiça às vezes passa longe da porta da ASP.

Por sinal, o Tour Manager da ASP, Renato Hickel, catarinense e conterrâneo de Ricardinho, já tirou o deles da reta. Segundo Hickel, o Trials de Teahupoo nada tem a ver com a ASP, pois é um evento da Federação Tahitiana de Surf. 

Mas vamos falar sério, uma entidade esportiva séria não permitiria nem agressões e muito menos o uso de drogas por parte de seus atletas. Até porque os atletas são ídolos que influenciam milhares de jovens e crianças mundo afora. Mas todos que acompanham os eventos da ASP de perto, sabem que nem as agressões, nem as drogas ou o álcool são punidos. Pelo contrário, tudo isso acontece inclusive durante as etapas do tour. Embora essa seja a geração mais saudável e atlética da história do surf, onde muitos surfistas do circuito são realmente atletas e não surfistas malucos, faça uma visita a qualquer um dos hotéis que recebem os surfistas e você pode comprovar o que falo aqui. 

Em relação ao antidoping, em 2011 a ASP anunciou que a partir de 2012 o tour faria os testes antidoping, mas parece que essa foi só uma daquelas conversas para boi dormir. Ao que parece, em 2012 somente um exame de antidoping foi realizado e em 2013 nem se fala mais nisso. Atletas limpos podem sim competir com surfistas "turbinados" sem nenhum problema.

Ao que parece, a ASP continua sendo uma associação privada, que protege as marcas e atletas e que faz de seu circuito uma grande festa, sem muitos compromissos com a justiça do esporte. 

Os juízes continuam os mesmos há muitos anos e embora tenham muita experiência e know how, são uma espécie de cargo de confiança da entidade. Erros e favorecimentos são comuns, assim como locutores e comentaristas que só estão lá para falar bem das marcas e dos eventos e para torcer descaradamente por seus surfistas favoritos. 

CORRUPÇÃO NO CIRCUITO MUNDIAL?

Dia 27 de julho agora, durante a etapa Prime de Huntington Beach, CA, e depois de perder em sua bateria para a 5x campeã do mundo Steph Gilmore, a atleta peruana SofiaMulanovich, ex-campeã mundial de surf, denunciou em seu twitter que existe corrupção entre os juízes da ASP.

“Mi última temporada en el tour y nada ha cambiado. Es una corrupción el surfing profesional y los jueces hacen pasar a las personas que le conviene a la industria y a los favoritos del momento” “Ha pasado muchas veces en mi carrera y esta vez no lo voy a permitir, es una pena, ya que el surfing es el deporte más lindo del mundo”, disse Sofia Mulanovich em sua rede social.

Sofia Mulanovich, campeã mundial de 2004, anunciou que não vai mais competir no tour e que existe sim favorecimento no quadro da ASP. Bem, não é nenhuma novidade que a ASP é um grupo privado e fechado e que os seus juízes não se renovam. Quem acompanha os eventos ao vivo ou pela internet, pode notar que os juízes têm sim seus surfistas preferidos e que constantemente erram em suas notas, quase sempre a favor de alguns “queridinhos” do mercado. Muitas vezes os julgamentos são tão subjetivos, que fica todo mundo sem entender. Ficam fãs, jornalistas, locutores, comentaristas e até os surfistas sem entender a lógica de julgamento. Até os grandes especialistas, que acompanham o esporte há décadas, ficam surpresos e perplexos diante de alguns resultados.

É uma pena ver um esporte tão puro e tão bonito nas mãos de pessoas não muito profissionais e com interesses que vão além da competição justa. Tudo isso tira um pouco do brilho e da credibilidade do esporte. 

Enquanto isso o "mercado" reclama que o surf continua sendo visto como um esporte menor e não muito profissional, que as marcas estão perdendo vendas, prestígio e glamour e que os preços de suas ações caem vertiginosamente. E tem gente que ainda se pergunta: por que será que isso está acontecendo?

Sem profissionalismo, sem transparência, sem regras claras e justas, até o mais bonito dos esportes fica feio.

Por: Dadá Souza
As fotos foram retiradas das mídias sociais do Ricardinho antes de serem excluídas

3 comentários:

  1. Dadá, parabéns pelo texto. Infelizmente, parece haver um pacto de proteção aos surfistas havaianos no tour. Eles agridem os surfistas brasileiros e não são punidos. A ASP depende deles para finalizar o tour em Pipeline e aceita todas estas atitudes lamentáveis sem tomar uma atitude. Até a Fifa, que não é uma entidade formada por gente séria, tomaria uma atitude mais drástica em relação a estes atos covardes e que nada tem a ver com o esporte. Um abraço.

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  2. O SURF não é ESPORTE...

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  3. toc, toc, toc... dona asp, justiça batendo à porta...

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