27 de fevereiro de 2014

Para onde caminha o circuito mundial?



Nesse dia 1º de março começa na Austrália o WCT 2014. Depois de um ano de inércia em 2013, onde nem a antiga gestão saiu da entidade e nem a nova gestão (ZoSea) assumiu seriamente as rédeas do tour, 2014 começou com várias mudanças. Nem todas boas.

A primeira mudança significativa foi o anuncio da Samsung como patrocinadora do circuito mundial, que agora se chama "Samsung Galaxy ASP World Championship Tour". 

Depois vieram as notícias de que Jeffrey´s Bay retorna ao circuito, no lugar da etapa de Bali. E ontem o anuncio de que a GoPro seria outra nova patrocinadora do WCT. A ZoSea havia prometido mudanças na captação recursos e novos patrocínios, e essas mudanças vieram. Enfim as grandes marcas começam a chegar ao circuito, antes bancado (e absolutamente fechado) pelas marcas que todos conhecem (Billa, Quik e Rip). 

Pois bem, mais dinheiro no tour e novos patrocínios aparentemente são coisas muito boas para o esporte. Mas será que todas as notícias são boas? Não é o que parece.

O circuito mundial hoje, para quem não sabe, (e grosseiramente falando) é da Quiksilver e do Kelly Slater. A tal “Associação” dos surfistas profissionais, que na verdade sempre foi uma empresa privada, foi comprada e hoje é administrada pela ZoSea, empresa comandada por ex(?)-membros da Quiksilver. 

A primeira notícia que chamou a atenção pela arbitrariedade, foi a escolha de Owen Wright para levar a vaga de wildcard, que aparentemente seria mais justa para o Glenn Hall, que surfou mais eventos que Owen em 2013, ficou na sua frente no ranking e que se machucou durante um evento da ASP, enquanto Owen se machucou em uma sessão de freesurf e só surfou e eventos em 2013. Kelly Slater foi para a mídia, defendeu que a vaga deveria ser de Owen, que este já havia disputado o título mundial e que merecia a vaga. A maioria concordou com o Kelly e o Owen subiu para o tour em 2014.
Só que sabe-se lá como, o aussie foi colocado como seed#14, enquanto Tiago Pires, o outro wild card, foi colocado como seed#34. Ou seja, Owen Wright já começa o ano como Seed#13, uma posição parecida com a sua colocação em 2012. O australiano, que quase não surfou no circuito em 2013,  já começa o ano sendo privilegiado e melhor colocado do que a grande maioria dos surfistas que disputaram o circuito o ano inteiro. Não sei como a ASP explica isso, mas decididamente isso não parece justo. O que será que pensam os outros surfistas a respeito disso? Estão todos participando das decisões como “sócios” da entidade?

A segunda notícia que causou inquietação foi que as mudanças mais esperadas pelo público, não vão mesmo rolar. Depois de um longo período de julgamentos tendenciosos e imprecisos, com claro favorecimento em diversas baterias, a grande maioria dos fãs do WCT esperavam mudanças nessa área. E elas não vieram. Aparentemente o Head Judge Richie Porta continua no cargo (mesmo depois de ser o maior responsável por julgamentos pra lá de polêmicos). 

Como disse o blog RealSurfing: “Great, great news for guys like Joel Parko and Julian Wilson: improved scores on the way, boys!!!”

Também pegou mal o caso de Lewis Samuels. O jornalista, tão respeitado pelo público, mal estreou na ASP e já puxaram seu tapete. Tanto seu Power Ranking quando sua participação foram deletadas da entidade. Lewis foi censurado! Falava verdades demais. 



Ninguém falou sobre isso, e essa também vimos pelo Realsurfing. Ao que parece, os atos de violência continuam a ser de certa forma incentivados pela ASP, que continua passando a mão na cabeça dos agressores. Em 2014, durante a etapa do WQS da Australia, o australiano Stuart Kennedy agarrou o pescoço do havaiano Kainoa Igarashi em plena bateria. Os comentaristas, que são mais cargos de confiança da entidade do que comentaristas de verdade, nada falaram. Ah, esqueci: eles não podem falar coisas negativas durante as transmissões. Por outro lado eles podem falar sem parar que os brasileiros são agressivos e que fazem muitos claims.

A última bomba da ASP veio hoje, via SwellNet, que divulgou o e-mail que a ASP enviou para a mídia durante o credenciamento para o Quiksilver Pro, o 1º evento oficialmente executado pela ZoSea. Nas entrelinhas, quase escondido, o seguinte ponto:

I hereby assign in full the rights to all audio, visual, still image or moving content I generate at the Event to ASP.”  Ou seja, ao selecionar “eu concordo”, você estará tendo a honra de atribuir a totalidade dos direitos dos conteúdos de aúdio, vídeo ou foto para a ASP. Suas fotos, vídeos ou entrevistas não serão mais suas, serão da ASP. E sem nenhuma compensação monetária.

Ao que parece, a ASP não vai mais permitir que empresas ou pessoas possam ganhar dinheiro com a marca ASP. Ou seja, se a Red Bull ou a Ford, ou qualquer outra marca que patrocine os atletas do tour, quiserem usar as imagens de seus atletas nos eventos do circuito mundial, não podem mais. E aqui fica uma dúvida intrigante: nesse caso os surfistas agora podem passar a valer menos para as marcas? Ou não?

Quem estava esperando um circuito mundial melhor, com ondas novas, com eventos mais dinâmicos ou com formatos diferenciados, e principalmente com julgamentos mais precisos, parece que vai ter de continuar esperando.

E só para acrescentar, quando o Kelly Slater e Terry Hardy (empresário de Slater e hoje um dos sócios da ZoSea) tentaram implementar em 2010 o Rebel Tour, o havaiano Andy Irons e o australiano Taj Burrow encabeçaram uma “rebelião contra o Rebel Tour”. Nem o Andy, nem a maioria dos outros competidores, queria um circuito comandado (direta ou indiretamente) por Slater. Muito menos enquanto ele fosse competidor. Mas sem um sujeito com a atitude e o carisma de Andy Irons, o Rebel Tour finalmente triunfou e os americanos agora estão no comandando do surf mundial. Se vai ser bom ou não para o esporte, só o futuro dirá. Mas essas primeiras impressões não parecem muito boas.



2 comentários:

  1. Esse lance do Owen retornar ao tour com seed alta é uma nova regra. Nick Carrol comentou a respeito no Surfline.

    Owen quando se machucou tinha um seed alto pois estava bem ranqueado no tour, entao retorna com seed alto. Ja o Saca estava por baixo, entao retorna por baixo.



    Putz, e que baixaria essa desse marrento do Stuart Kenedy heim! Agora queimou o filme geral.

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  2. Foto é do fotógrafo. Pura bobagem da ASP isso

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