Antes de falar sobre um evento de ondas minúsculas, ruins e
com um julgamento que ninguém consegue entender, pois os critérios e as escalas
mudam demais (principalmente dependendo de quem está na água), quero falar que
mesmo acompanhando o surf profissional e os campeonatos há mais de uma década,
eu não sou juiz e (pelo jeito) não entendo muito de julgamento. Acabei de rever
muitas baterias pelo ON DEMAND e gostaria de perguntar aos juízes da ASP
algumas coisas: Se é que existem critérios sérios no julgamento da ASP.
Foram muitas as baterias que chamaram a atenção por seus julgamentos imprecisos ou esquisitos. Vou publicar aqui para ver se alguém
consegue explicar.
ROUND 2
FREDRERICK PATACCHIA
(17.43) x MIGUEL PUPO (13.74)
Freddy P abriu a bateria com uma boa direita, executou uma
excelente primeira manobra, uma chinelada com força no lip, seguida de duas
manobras fracas e finalizou com uma batida na junção. Patacchia
marcou 8.50.
Miguel Pupo fez sua 1ª nota em uma esquerda bem pequena, deu
um floater funcional, embalou e mandou um aéreo rodando muito alto, que por
sinal é uma manobra que o Patacchia talvez nem saiba executar em tais condições,
e ganhou 6.87.
A segunda onda do Freddy P, o havaiano executou quatro
rasgadas de backside em uma direita da série, todas mais burocráticas do que
talentosas e finalizou com uma batida na junção e ganhou 8.93.
Na última onda do Miguel Pupo, a brasileiro desferiu 7
manobras. Começou com um floater e sem perder velocidade, uma rasgada
invertendo toda a prancha, na sequencia
um tail slide 360, 3 manobras insignificantes e finalizou com um segundo
tailside 360 na areia, uma onda que deveria valer pelo menos 2 pontos a mais do
que a segunda onda de Patacchia. Mas ganhou 6.87.
O que foi valorizado nessa bateria? O tamanho das ondas? Voltamos
aos anos 80 onde rasgadas de backside ganham de manobras progressivas? Que
critério os juízes usaram para julgar essa bateria? Acho que não entendi o julgamento. Miguel Pupo foi mais criativo,
mais ousado, mais progressivo e usou um repertório de manobras maior, mas
perdeu a bateria e a vaga para o Round 3.
ROUND 3
CJ HOBGOOD (15.30) x GABRIEL
MEDINA (14.87)
Medina abriu a bateria com uma direita bem pequena, mas que
rendeu 7 batidas de backside e uma rasgada. Medina foi até a areia, finalizando
a onda com uma batida na junção e ganhou uma nota 8.
CJ deu sua resposta na onda de trás, surfou mais lento, com
um approach menos radical e mais burocrático e ganhou uma nota 7.50. Muita gente
achou que essa onda deveria valer pelo menos um ponto e meio a menos, mas os juízes
valorizaram.
Medina em sua segunda onda escolheu outra direita bem
pequena, mandou 4 batidas de backside, a segunda delas não muito limpa e
finalizou a onda com um tailslide de backside. Ganhou 6.87.
Nessa hora CJ Hobgood deu o seu tradicional showzinho (sempre
contra o Medina). Reclamou, xingou, deu soquinho na água e pediu nota.
Em sua última onda deu dois floaters de backside, 3
batidinhas, uma rasgada e uma batida na junção. Outra onda muito mais
burocrática do que talentosa, e ganhou 7.80.
Ficou a impressão que o surf ultrapassado de CJ (nas
merrecas, claro) foi mais valorizado, e que o Medina foi julgado não pelo que
ele fez, mas pelo que ele poderia ter feito.
CJ escolheu ondas maiores e melhores, enquanto Medina fez uma escolha de
ondas muito ruim. Mas analisando as manobras, fica difícil de dar a vitória ao
CJ. O que foi valorizado nessa bateria? Floaters em trestles? A escolha de
ondas? Ou talvez o Medina esteja sendo punido por causa de tanto choro e de
tantas reclamações dele e de sua família?
ROUND 3
KELLY SLATER (14.80) X PATRICK
GUDAUSKAS (14.80)
Patrick Gudauskas abriu a bateria com duas batidas de
backside deslizando um pouco a rabeta, onde ficou até um pouco preso no lip, uma
rasgada fraca e uma finalização também fraca (e não completa) e ganhou 8.50.
Uma nota que a meu ver, parece ter saído mais pelos gritos da torcida do que
pelas manobras.
Slater em sua primeira onda deu uma forte rasgada tailslide,
um forte cutback e um air reverse na finalização, uma onda bem mais forte, mais
radical e mais criativa que a onda de Pat Gudauskas, mas ganhou 7.70.
Slater em sua segunda onda pegou uma direita menor, mandou
duas manobras fracas e finalizou com um pequeno aéreo na junção e marcou 7.10.
Gudauskas ainda pegou uma boa direita que começou com uma
ótima primeira manobra, duas manobras funcionais e uma forte rasgada e marcou
7.07. Essa onda me pareceu melhor que a sua primeira onda, mas os juízes
acharam que não.
O que foi valorizado nessa bateria? Os gritos da torcida
local, que estava com Pat Gudauskas? Bem, talvez ter tirado Slater do evento tão
cedo tenha mesmo colocado um pouco mais de tempero na corrida pelo título
mundial de 2013. Mas o julgamento, eu não entendi.
ROUND 3
JULIAN WILSON (17.03) x FILIPE
TOLEDO (16.07)
Filipe Toledo começou com uma onda pequena, mas de 7
manobras. Começou com um cutback, mandou uma batida, um forte rasgadão, um aéreo
rodando, um tail slide, outra forte rasgada e finalizou a onda com um cutback.
Marcou 8.17.
Julian em sua primeira nota mandou quatro rasgadas e
finalizou com uma batida na junção. Uma onda bem pior que a 1ª onda do
Filipinho, mas que valeu 7.93, uma nota muito próxima.
Filipe Toledo em sua 2ª onda pegou uma esquerda, mandou um
bom aéreo rodando de backside já na primeira manobra e uma batida de backside e
ganhou 7.90. Essa também foi uma onda melhor que a 1ª onda de Julian, mas ganhou
somente 7.90.
Em sua última onda, Julian mandou um ótimo aéreo rodando de
backside, duas rasgadas e duas batidas e levantou a galera na praia. Ganhou
9.10.
Julian talvez seja o cara que mais baterias ganhou de
presente na história do surf moderno e casualmente, quase sempre contra
surfistas brasileiros. É um ótimo surfista, um grande talento, mas tem recebido
mais notas do que tem merecido. Sua última onda foi excelente, mas sua vitória foi
mais um presente dos juízes.
Tiveram outras baterias de julgamento confuso, onde
jornalistas e publico ficaram sem entender, mas vou ficar nessas.
No Round 4 também fiquei na dúvida: Porque uma onda com 5
rasgadas pequenas de backside valem 7.83 (Kai Otton) e uma onda com uma forte
batida, uma forte rasgada e um aéreo rodando no final valem só 6.90 (Mineiro)? Não
discordo do resultado dessa bateria, mas essas ondas, por exemplo, tiveram um
julgamento ridículo.
As vezes parece que nós, público, fãs e jornalistas, fazemos papel de bobo o perdendo tempo e noites inteiras para ver baterias e escrever sobre eventos onde o julgamento não parece ter muito critério nem muito sério. Juiz de surf não deveria ser um
Cargo de Confiança, como é hoje. Deveria haver renovação. E o head judge não
deveria ter tanto poder. Porque não acontece uma renovação no quadro de juízes da ASP? Porque os melhores juízes do WQS não sobem para op WCT e os piores do WT não caem? Panela é feio em
qualquer esporte.